The Product Innovator's Handbook - resenha crítica

No nosso cotidiano, por vezes nos deparamos com uma ou outra chateação rápida. Um controle remoto que não funciona como deveria, um estacionamento de mercado que não foi desenhado da melhor maneira. Todos os dias, vivenciamos pequenos problemas, que costumam não demorar muito em nossa mente, logo os esquecemos. 

No entanto, perceber esses problemas e resolvê-los é a melhor forma de criar um bom produto. Não apenas um produto que lhe trará retorno financeiro, o que, por si só, já seria ótimo, mas algo que faça a diferença na vida das pessoas e que lhe deixe orgulhoso por ter sido seu criador. Roberts vai nos ajudar a identificar essas oportunidades que costumam passar despercebidas enquanto nos ensina a sermos melhores criadores e designers de produto.

Cada criador faz um novo produto com uma motivação diferente. Ao entender como a mente dos outros companheiros de profissão funciona, e ao nos identificarmos com uma dessas categorias, podemos compreender melhor nossos pontos fortes e fracos dentro de um processo de criação.

Os sonhadores

O primeiro tipo de criador, de acordo com Roberts, são os sonhadores. Esses são os espontâneos, normalmente já estão em um momento estável em sua carreira e vida pessoal, não necessariamente já trabalharam com criação de produto antes, e, de repente, são atingidos por uma ideia.

Você está fazendo algo corriqueiro quando percebe que há outras maneiras de realizar aquela ação. Talvez de forma mais divertida, prática ou rápida, mas é fato que existe um jeito melhor. Para você, o dinheiro provavelmente não é sua maior motivação, mas sim o próprio ato de criar algo que vai ajudar e ser útil para tantas pessoas.

Normalmente, essas pessoas fazem projetos mais simples e não pensam em criar novas empresas ou distribuições em larga-escala. Portanto, o processo desde a criação até colocar o produto no mercado costuma ser mais rápido, o que é bom, pois esse tipo de designer pode se sentir frustrado com mais facilidade caso demore anos para finalmente enxergar seu produto na mão de outras pessoas.

Os aprendizes

Assim como os sonhadores, provavelmente a ideia do seu produto chegou até você de forma inesperada. Mas, ao contrário deles, sua mente é incansável e busca sempre maneiras de melhorar e aperfeiçoar seu protótipo. É preciso tomar cuidado para não entrar num ciclo vicioso, sempre recebendo protótipos, pedindo alterações e nunca lançando o produto.

Se você se identificou, saiba que é ótimo ter uma pessoa cuidadosa e que está sempre em busca de se aperfeiçoar na criação de algo novo. Mas tome cuidado, é muito fácil se frustrar em busca de um objetivo que pode nunca chegar, afinal, suas mudanças não param. Aprenda a aproveitar cada momento, mas estabeleça objetivos e prazos fixos.

O profissional

Talvez você já possua a expertise e um certo renome em seu campo profissional de origem. Em seu contexto, enxergou uma oportunidade para criação de um produto que vai atender às demandas de algum público específico ou mesmo uma necessidade que identificou em seu dia a dia. Para você, apesar de o dinheiro ser muito bem-vindo, o maior incentivo para lançar um produto seria o peso positivo que traria para seu nome. Se os benefícios desse produto se traduzirem de modo objetivo, como economizar tempo e dinheiro, você se sentirá ainda mais motivado em lançá-lo.

O mais importante para esse tipo de criador é a motivação. O autor nos traz como exemplo um cliente para o qual prestou consultoria, e seu produto da área médica acabou não funcionando do jeito que deveria, perdendo o investimento inicial e, por fim, não chegando ao mercado como havia sido planejado. Entretanto, não foi um grande contratempo. O produto era o meio para um objetivo, não o objetivo em si. 

O negociador

Se você pertence a essa categoria de criadores, você enxerga criar um produto como uma proposta comercial. Seja um meio de ampliar sua carreira ou criar uma nova, sua motivação maior é crescer econômica e profissionalmente por meio de suas criações.

Portanto, essas pessoas não têm um tipo específico de criação em mente, podendo abranger desde coisas inovadoras quanto prezar mais pela praticidade. O importante é seu valor monetário e a oportunidade dentro do mercado escolhido.

Essas pessoas costumam tomar decisões de maneira rápida voltadas para o sucesso comercial de suas criações, pois seu maior desejo é começar a receber retorno financeiro a partir delas. Tenha um pouco mais de paciência e comece a aproveitar mais o processo.

Sua motivação é o mais importante

Como Roberts nos mostrou, existem diversas maneiras de ser um designer de produto. Seja qual for sua motivação, se for apenas o retorno financeiro, desejo de ajudar as pessoas ou ambição profissional, a tenha de forma clara e a transforme em um objetivo concreto. É importante saber o que se quer e pensar em como tornar seus sonhos realidade de maneira prática. Se ainda tem alguma dúvida a qual tipo você pertence, o autor pode lhe ajudar. Pense o quê e como você faria cada um desses passos na lista que ele formou:

1. Identificar um problema e criar uma solução para ele
2. Obter feedback das pessoas que você espera que comprem o produto
3. Visualizar conceitos para o seu produto
4.  Testar um protótipo funcional
5. Produzir o seu produto
6. Divulgar, vender e distribuir o produto
7. Aproveitar seu sucesso

Qual desses pontos mais lhe animou? Se você achou a etapa 6 a mais intrigante, pode ser um sonhador ou um profissional. Já os itens 3 e 4, apontam para o perfil de aprendiz, e, se foi a etapa 7, talvez você seja um negociador. É claro que há interseções entre esses perfis, mas isso pode lhe ajudar a compreender melhor qual o seu perfil.

O caminho até seu produto

Agora que você compreende melhor seu próprio comportamento, assim como seus pontos fracos e fortes, podemos começar a pensar como construirá seu produto. Lembre-se, tudo começa com uma boa motivação e um problema a ser resolvido. Defina bem o que você está procurando resolver e as possíveis soluções. Será que esse problema é “solucionável”?

Depois disso, pesquise! Pesquisa é uma das etapas mais importantes em um processo de criação, afinal, você não quer passar meses mergulhado em seu computador, investir em um protótipo para depois descobrir que o produto que você criou não apenas já existe como é ainda mais barato ou melhor do que o que você planejou. 

Para não cair no pior pesadelo de um criativo, faça o que chamamos de benchmarking, um estilo de pesquisa que visa compreender os possíveis concorrentes, sejam eles diretos ou indiretos. Veja como as pessoas já estão resolvendo o problema que você encontrou, e melhor, tenha a certeza de que é um problema real. Já pensou se você descobre que, na verdade, era algo que incomodava só a você? Para não passar por esses perrengues, sempre realize uma boa pesquisa.

Com a pesquisa de benchmarking, a próxima grande questão pode ser respondida: Quem é seu público-alvo? Faça mais uma pesquisa. Descubra quem seriam as pessoas interessadas em sua solução, como elas se comportam, o que consomem e quanto estariam dispostas a investir em um produto como o seu. Após mais essa etapa, proteja seu produto. Ele é algo valioso que responde a uma necessidade real, crie um registro de marca, oficializando sua empresa ou produto, e se proteja de dores de cabeça futuras.

Descubra exatamente quanto vai custar o processo de criar esse novo produto que você desenhou. Faça os cálculos, conte com alguns imprevistos e faça orçamentos de protótipos. É importante tomar cuidado com os números, afinal, quando você for conversar com investidores, os números serão a primeira coisa que vão olhar.

Por último, teste! Faça um protótipo e teste, na prática, seus resultados. Chame pessoas que fazem parte do seu público-alvo, peça opiniões de profissionais do campo da sua invenção e reveja o que precisa ser revisto. Este passo pode lhe ajudar a prevenir maiores gastos no futuro.

Notas finais

Ideias são valiosas, mas, como Henry Ford apontou, uma ideia é apenas o começo. O que o Roberts nos ajuda a enxergar é que o mais importante é transformar essa ideia em um produto. A jornada de desenvolver um produto exige persistência, por isso, é muito importante entender seu "porquê", sua motivação pessoal para inovar  e tomar decisões alinhadas aos seus objetivos.

Sempre questione se sua solução é eficaz e considere suas alternativas, usando criatividade e objetividade para validar sua ideia. Não assuma que o mercado será composto por "pessoas como você", e sempre estude o comportamento do seu potencial consumidor. 

Pensar estrategicamente em todas as etapas do desenvolvimento do produto proporciona mais controle e confiança durante o processo. A recompensa de ver seu produto no mercado, sendo usado por clientes reais, será uma experiência única e gratificante.

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